História Anestesiologia

História da Anestesiologia

SAEPI

O médico e farmacêutico americano Crawford Williamson Long (1815-1878) foi o primeiro a usar o éter como anestésico durante uma intervenção cirúrgica. Em 1842, no dia 30 de março, o paciente James Venable inalou os vapores do éter e, assim, Crawford pôde ressecar um tumor em seu pescoço, sem que o paciente sentisse dor. O preço do procedimento com anestesia foi de dois dólares e Crawford passou a usar o éter em amputações e em partos, mas não se preocupou em publicar os resultados, o que só seria feito em 1849, por William Thomas Green Morton (1819-1868). (JURGEN, 1987, p.97-122)

A palavra anestesia quer dizer insensibilidade mórbida ou artificial. Literalmente, "sem sensação". É a privação geral ou regional da faculdade de sentir, extensiva a todo organismo ou parte dele, J. Simpson, em 1846, no Pharmacological Journal, sustenta que a palavra anestesia teria surgido pela primeira vez em 1721. E a maioria dos seus derivados: anestésico, anestesiar, anestesia e agente anestésico só se fez presente em 1882. (MEIRA, 1968,p.18)

Em 11 de Dezembro de 1844, Horace Wells, dentista em Hartford, sujeitou-se à extração de um dente por um colega, sob o efeito do óxido nitroso. Wells tinha tomado contato com esse gás na noite anterior, durante uma demonstração pública do chamado gás hilariante, organizada por um químico chamado Gardner O. Calton. Durante a demonstração, um dos homens que tinha inalado o gás começa a correr pela sala de conferência e, mesmo após ter ferido joelhos e pernas a ponto de sangrarem, não exibiu dor. (MANICA, 2004,P.23)

Wells conseguiu marcar uma demonstração em Janeiro de 1845, frente a uma plateia constituída por professores e estudantes de medicina da Universidade de Harvard, contudo a desmontração não ocorreu como o previsto, o paciente era grande e forte, e Wells não dominava a farmacologia, nem a administração do óxido nitroso. O paciente gritou de dor, e o fracasso foi completo. Wells voltou para Hartfort dizendo que não se podia confiar naquele gás. O fracasso o pertubou tanto que o levou a suicídio. (MANICA, 2004, p.23)

William Thomas Green Morton, estudante de medicina, também dentista em Boston e colega de Wells, debruçou-se sobre o assunto da analgesia e decidiu preterir o dióxido de azoto a favor do éter sulfúrico retificado. Morton ensaiou em si próprio, no seu cão, até que, em setembro de 1846, extraiu um dente, com anestesia por éter, do paciente Eben Frost.

Morton estava desejoso de tornar pública a sua descoberta e agendou uma demonstração também na Massachusetts General Hospital. Ele, então, esperou a permissão do cirurgião John Collins Warren. Aquela demonstração estava marcada para as 10 da manhã de 16 de outubro de 1846 e compreendia a remoção de um tumor vascular de Gilbert Abbot. Após organizar seu aparelho, que seria usado para anestesiar o paciente, iniciou a administração de seu preparado. Depois de alguns minutos, o paciente estava inconsciente, ao que Morton disse para o renomado cirurgião John C. Warren que o paciente estava pronto. A cirurgia correu sem probelmas, o paciente não aparenteu qualquer tipo de dor e confirmou isso, após, ter recobrado a consciência. Após o término da operação, Warren virou-se para a audiência e disse: "Senhores, isto não é uma farsa." (MANICA, 2004, p.25-26)

Morton não queria revelar a natureza da substância a qual chamou Letheon, o "rio do sono" da literatura grega. As reações em Boston e no mundo foram de incredibilidade e, depois, de hostilidade. Os cirurgiões não concordavam em pagar pelo Letheon e também não queriam que seus pacientes fossem anestesiados. Morton era chamado por leigos e médicos, de charlatão. A administração de éter estava ameaçãda de processo. Morton ensinou jovens médicos a aplicar o éter, e eles partiram para vários locais dos Estados Unidos, Londres, Paris e São Petersburgo, para divulgar a anestesia. Transformou sua casa em hospital oferecendo cirurgias gratuitas, pedindo somente que os pacientes testemunhassem que haviam sido anestesiados. Passou a fabricar éter puro que ofereceu ao governo, para ser usado nos soldados feridos de guerra México, mas recusaram sua oferta. Em um registro, sua esposa, Elizabeth Whitman Morton, afirmava que o grande feito do marido seria um grande bem para a huanidade, mas uma maldição para ele e sua família. Em julho de 1868, Morton foi a New York responder a um artigo agressivo escrito por Charles Jackson. A caminho do Central Park, sentiu-se mal e caiu inconsciente nos braços de sua esposa. Foi levado ao St. Luke's Hospital, onde morreu de insuficiência vascular cerebral. (MANICA, 2004, p.27)

A inscrição oferecida por amigos no seu epitáfio diz: "Aqui jaz W. T. G. Morton, o inventor e revelador da Anestesia Inalatória. Antes dele, em todos os tempos, a cirurgia era sinônimo de agonia. Por ele, a dor na cirurgia foi evitada e anulada. Depois dele, a ciência tem o controle da dor".

No Brasil - após esse fato histórico de Morton - em 25 de maio de 1847, Roberto Haddock Lobo e Domingos Azevedo Marinho reproduziram esse feito no Rio de Janeiro e, também com éter, anestesiaram um estudante de medicina que se voluntariou para a experiência, Francisco D' Assis Paes Leme. No mesmo ano, Rodrigo Bivar usou pela primeira vez o clorofórmio. (MANICA, 2004, p.30)

E em 1848, surgia a primeira tese brasileira sobre a anestesia. Segundo MEIRA (1981, p.28), alguns estudiosos do assunto entendem que a mais antiga tese sobre anestesia seria do ano de 1851, da Bahia, mas haveria uma anterior, a de Francisco Manoel da Conceição, publicada em 1848, no Rio de Janeiro.

Em 1888, Francisco Paes Leme realiza uma raquianestesia procedimento divulgado em 1896 pelo cirurgião Daniel D'Almeida. Em 1898, Álvaros Ramos operou irmãs xifópagas com o auxílio de Miguel Couto, Miguel Fajardo e Leão Aquino. Em 1903, Daniel D'Almeida introduziu a ficha de anestesia na 24ª enfermaria da Santa Casa. O professor Leonidio Ribeiro, em 1927, fez as duas primeiras demonstrações sobre como usar o óxido nitroso com o aparelho de anestesia Desmarest, importado da França. O fato ocorreu na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. (MANICA, 1966,p.362-365)

Em 1939, Mario Castro de Almeida Filho, Oscar Vasconcelhos Ribeiro e Ivo Lazzarini criaram o primeiro serviço profissional de anestesia da cidade do Rio de Janeiro, o Serviço Médico de Anestesia (SMA). A evolução da anestesia nessa época deve-se à anestesia geral, que possibilitou o uso de novos equipamentos, como os aparelhos McKesson e Heidbrinck, e o emprego de novos agentes como o ciclopropano, usado pela primeira vez no Brasil por Álvaro de Araújo Salres, em 1936. (MANICA, 2004, p.30)

Durante algumas décadas, em pleno século XX, a anestesia era administrada por pessoas não credenciadas, como acadêmicos de medicina, irmãs de caridade, atendentes de enfermagem, parteiras leigas, farmacêuticos, ou, até mesmo, por pessoas absolutametne leigas. Até serventes ou ex-pacientes eram chamados para desempenhar a função, administrar o "cheiro" sob o comando, à distância, do cirurgião. (MEIRA, 1981, p.65)

Com o número crescente de médicos e estudantes interessados em anestesia, as clínicas e hospitais foram paulatinamente organizando seus serviços de anestesia. No ínicio da década de 40, diversos colegas passaram a se entusiasmar pela nova especialidade.

Segundo Manica (2004, p.30) durante a 2ª Guerra Mundial, já na Itália, o Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, não contando com médicos anestesistas, designou, dentre outros, Hebert Brito Lyra, Breno Cruz Mascarenhas, Sebastião Souto Mayor e Henrique Rupp para um estágio na especialidade, no Corpo de Saúde do V Exército das Forças Aliadas. Em 1945, com o retorno deles, houve maior interesse pela atividade, vindo daí novos cursos.

Vale registrar os nomes daqueles que já exerciam a anestesia, anteriormente à fundação da SBA em 1948: Mario Castro d'Almeida Filho, Oscar Vasconcellos Ribeiro Ivo Lazzarini Santiago, Luís Didier, Jorge Guilherme Brauniger, Edimar Jenuíno de Oliveira - todos pertenciam ao Serviço Médico de Anestesia e, além deles, Álvaro Araújo Sales, Vicente Ferrer Gaede, Clarisse do Amaral, José Menezes, Carlos Arthur Cabral de Menezes, José Affonso Zugliani, Renato Corrêa Ribeiro, Hebert Brito Lyra, Breno Cruz Mascarenhas, Sebastião Souto Mayor, Paulo Droeshagem, Herman Byron Soares de Araújo Filho, José Joaquim Cabral de Almeida, José Generoso, Walder Cordeira Vieria de Castro, Renato Barbosa de Oliveira, Alexandre Canalini, José Luis Guimarães Santos, Nelson de Queirós Paim, Carlos Alberto Lombardi, Custódia Esteves Neto e Antônio Patury e Souza, vindo da Bahia em 1945, a quem se deve o nome de Sociedade Brasileira de Anestesiologia, por ele proposto, quando presidiu a reunião de colegas interessados na especialidade, em 25 de fevereiro de 1948, no Hospital do Servidores do Estado, atual HIPASE. Atuavam também os estudantes: Deyler Goulart Meira, Laudino Carneiro Filho, Yu Corrêa Teixeira, Walter Silva Machado e Sérgio Teixeira da Silva. (MANICA, 2004, p.30-31)

O retorno da Força Expedicionária Brasileira da II Guerra Mundial trouxe, principalmente para o Rio de Janeiro e São Paulo, um contigente de médicos, cujos serviços prestados nos hospitais de campanha foram exercidos exatamente na assistência anestésica.

Em consequência do trabalho brasileiro na 2ª Guerra Mundial, em 1944, publicou-se o primeiro livro sobre Anestesia no Brasil, um trabalho conjunto entre a 2ª Região Militar e a Reitoria da Universidade de São Paulo. Em 1943, o professor Raul Briquet organizou o Curso de Anestesia, no qual se inscreveram 236 candidatos, entre médicos e acadêmicos . As aulas formara um livro: "Lições de Anestesiologia", o primeiro tratado brasileiro sobre o tema. (MEIRA, 1981, p.137)

Em carta ao Dr. Leão João Machado, na época da compilação de dados para organização do livro "Sociedade Brasileira de Anestesiologia", que conta a história da Sociedade, de sua fundação até o ano de 1988, o Dr. Patury conta que, antes da SBA, existiam três grupos no Rio de Janeiro que se dedicavam à especialidade, contudo a grande maioria das anestesias era anestesiologia, como cirurgiões, auxiliares, enfermeiros, irmãs de caridade e, até mesmo, pessoas sem nenhuma ligação com a medicina.

Dos encontros nas diversas casas de saúde às conversas ocasionais, os profissionais se reuniam para trocar opiniões a respeito da especialidade e das novidades na área. A chegada desses profissionais repletos de novas experiências fez aflorar ainda mais o interesse pela especialidade. As reuniões para discussões clínicas tornaram-se mais frequentes e organizadas.

Patury conta ainda que percebeu a necessidade de os profissionais médicos anestesiologistas se organizarem para discutir os assutnos ligados à classe e possiveis melhorias, uma vez que os membros dos grupos já existentes estavam distribuidos nos hospitais e casas de saúde do Rio de Janeiro. Num trecho da capa a Leão Machado, Patury conta-nos o seguinte:

"De uma série de conversas ocasionais surgiu a ideia de nos reunirmos e mantermos um maior contato, trocando opiniões a respeito dos nossos problemas profissionais e das novidades que surgiam. Após vários encontros, combinou-se que uma reunião para isso seria necessária. O Dr. Oscar Ribeiro, na época chefe do serviço de anestesia do Hospital do Servidores do Estado, ofereceu esse local para a mesma [...] No decorrer da reunião, surgiu a ideia de fundarmos uma sociedade que, por sugestão nossa, foi batizada de "Sociedade Brasileira de Anestesiologia" (MACHADO, 1991,p.19)

Em um desses encontros, por sugestão de Antônio Patury Souza e Oscar Vasconcelos Ribeiro, realizou-se, no dia 25 de fevereiro de 1948, no Auditorio do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, à Rua Sacadura Cabral, no 158, uma reunião decisiva entre os profissionais da Anestesiologia. Essa foi uma importante iniciativa, pois daí originou-se a criação de uma Sociedade. Aprovada em plenário, com ata registrada e assinada pelos seus fundaddores, nascia a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA).

Referência: Sociedade Brasileira de Anestesiologia - 65 Anos | 1948 - 2013

Autores: Airton Bagatini, Michelle Sales e Silva, Maria de Las Mercedes G. Martin de Azevedo